O FISIOLOGISMO ARTÍSTICO NO TEATRO

(por Tonico Lacerda Cruz)

Confesso que relutei muito para escrever este artigo, sobretudo pelo fato de que o assunto é plenamente conhecido no meio artístico, mas, como a sombra de Peter Pan, parece perseguir aqueles que o abordam. Prova disso é que, há alguns meses, respondi à uma entrevista de um conceituado jornal cearense, sobre as expectativas do artista em relação às novas políticas culturais, com um texto explícito sobre este assunto, e o mesmo sequer foi publicado...

Sabemos que o artista é, por essência, contestador (isso, sem falar na criatividade e na busca incansável pela estética). Todavia, o que não podemos conceber é a incoerência entre a logos e a práxis.

Em termos políticos, o artista é, “brincantemente” do contra, da esquerda, do ato de repúdio... O artista (sem generalizar) é “cheguevarista”: "SE HAY GOBIERNO, SOY CONTRA!"

Mas, quando o assunto é fisiologismo na política, o artista é ainda mais contundente: mostra os dentes, aguça as unhas, rosna, toma postura de predador e se manifesta em redes sociais, como os judeus, que condenaram à morte um preso político, para libertar um outro “amigo”. Palavras de ordem são lançadas. Frases feitas são copiadas e coladas (muitas sem qualquer autenticidade de autoria). Imagens são plagiadas sem qualquer constrangimento (estamos falando de artistas)...

Todavia, quando se trata de julgar seus pares, o artista coloca o rabo entre as pernas e senta em cima: editais culturais se tornam viciados, onde um escolhe o outro, para no próximo ser escolhido por ele. Não há critério artístico e estético. Há apenas o FISIOLOGISMO ARTÍSTICO.

Mas, se não há sequer vergonha na cara, para a perpetuação desta prática, há justificativa para isso: O público, um dos três pilares de sustentação do teatro e principal interessado, não toma conhecimento destes fatos, já que os espetáculos não são para o público em geral; são para “quem faz teatro”.

Haverá aqueles artistas que, ao lerem este artigo, coloquem a carapuça e, numa esperada atitude revanchista, queiram justificar esta viciada prática, ou mesmo negá-la.

Não há como! Basta tomar por base os últimos 4 ou 8 anos e verificar os contemplados pelos editais culturais governamentais aqui no Ceará. São os mesmos artistas/grupos que se revezam!!! Um, indicado em determinado edital como integrante da curadoria, escolhe os demais (E convence os técnicos de fora - quando há). Depois a troca de favores é revezada...

Ora, a avaliação dos espetáculos inscritos é, claramente, resultado de uma alienação, quando o avaliador deixa de ser sujeito, para ser objeto de uma instituição ou de uma filosofia partidária ou de um “grupo de amigos”.

O julgamento de editais não deve (ou não pode) ser feito em função do aqui e do agora das situações ou do FISIOLOGISMO de “panelinhas” de grupos “amigos”.

Será que são somente estes mesmos artistas/grupos contemplados, que fazem arte de qualidade? Será que há apenas estes grupos de teatro?

Quem pode responder é aquele que não participa do processo, apesar de ser um dos pilares: o público! Este, que paga ingresso e assiste ao espetáculo que quiser! Este, que aplaude espetáculos de grupos, que existem há 5, 10, 15 anos e que nunca foram contemplados nos tais editais.

Mas, apontar os vícios, colocar o dedo em riste não basta. Por isso, como SUGESTÃO aos titulares das políticas culturais: Convoquem TODOS os técnicos de fora para serem os julgadores dos Editais e os deixem LIVRES!

Lamentável o fisiologismo... Mais lamentável ainda é o FISIOLOGISMO ARTÍSTICO!