(Por Mayara de Araújo. Artigo publicado no Jornal O POVO de 25/07/2013)
Dois dos principais palcos cearenses - Theatro José de Alencar e Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura - entram em reforma. Teatro Carlos Câmara, que deveria absorver parte da programação, ainda não foi entregue adequadamente. Centro Cultural Banco do Nordeste segue em processo de transferência. E a promessa de uma Virada Cultural ainda permanece distante depois de quase um ano do anúncio.
Diante desse panorama, 23 grupos de teatro de Fortaleza decidiram parar de esperar pelas autoridades da cultura e fazer sua própria articulação. Assim surge o I Circuito Alternativo de Teatro, que acontece até o dia 28 de julho em oito sedes de companhias locais, em diversos bairros. "Nós apelidamos essa ação de ´revirada cultural´. Se a Virada não sai, a gente vai começar a mobilizar sem contar com eles", afirma Herê Aquino, diretora do Expressões Humanas, com sede no Centro.
Segundo Herê, em reuniões, representantes dos grupos mapearam cerca de dez sedes em toda a cidade. "Duas delas não puderam participar, então fechamos em oito sedes. Nossa ideia era dividir alguns espetáculos por sede, poucos mesmo. Mas, de repente, haviam tantos grupos inscritos, que decidimos tentar encaixar a maior quantidade possível de montagens na programação", explica Aquino.
Colaborativo
Entre os espetáculos, há, portanto, um pouco de tudo - bonecos, teatro de rua, arena, palco italiano. E cada um vai se adequando ao espaço oferecido por cada sede. "Estamos aqui arrumando a casa para receber os amigos. A sensação é a mesma. Um tem um refletor, mas não tem caixa de som. A gente vai lá e ajuda, empresta. Aqui não queremos dinheiro, nossa moeda de troca é a arte, o teatro", afirma Nelson Albuquerque, integrante do Pavilhão da Magnólia, que, atualmente, reside no Teatro Universitário, da Universidade Federal do Ceará.
Pavilhão da Magnólia, Bagaceira, Expressões Humanas e Fulô de Talvim são alguns dos grupos que se apresentam no I Circuito Alternativo de Teatro
No TU apresentou-se, ontem, "Meire Love", do Bagaceira; e "Luto", da Cia. Prisma. Já hoje, quinta-feira, é a vez de essas mesmas companhias abrirem as portas de seus cafofos: na Casa da Esquina, dividida pelo grupo Bagaceira e Teatro Máquina, serão apresentados três espetáculos, das 18h às 20h. Na sede da Companhia Prisma de Artes, outros dois, das 17h às 18h.
(Veja abaixo a PROGRAMAÇÃO COMPLETA)
E quando dizem que estão fazendo teatro "na marra, no braço", atores e diretores não mentem. No blog do I Circuito Alternativo de Teatro, conhecendo as dimensões dos espaços de cada sede e suas estruturas, fica fácil concordar com eles. Muitos grupos têm por palco cômodos comuns de uma casa, sem palco ou bocas de cena.
A maioria são salas ou verdadeiros corredores, com uma média de 50m² para encenação e plateia. Esta, aliás, se arruma em banquinhos e cadeiras de plástico e, então, cabem 20 ou 30 pessoas. Alguns, recorrem aos quintais e às calçadas para ampliar esses espaços. "Sabemos do caráter particular de nossas sedes, mas elas acabam servindo de centros culturais públicos, com oficinas, cursos, temporadas... Infelizmente, essa função social não é valorizada como deveria, porque os editais de manutenção, por exemplo, são tão poucos e com um valor tão pequeno que não são suficientes para equipar uma sede, ajudar a levantar um palquinho, não dá", alerta a diretora do grupo Expressões Humanas.
Fora do eixo
Além do caráter solidário da mostra, entre troca de experiências e de equipamentos, outro aspecto muito rico para o teatro local é a verdadeira descentralização que os grupos promovem. "Nesse processo de mapeamento, percebemos que há sedes em bairros muito distintos: Bairro Ellery, Dias Macedo, Bom Jardim, José Walter, Centro, Serrinha. Então, sentimos que estamos realmente ocupando a cidade", revela Herê Aquino.
"É um recado para as próprias secretarias de cultura e empresas privadas. Queremos mostrar que há um movimento organizado, uma classe artística, querendo mostrar sua poética e não apenas em um quadrilátero já tão batido: Aldeota, Praia de Iracema, Benfica, Centro. As programações financiadas com dinheiro público, geralmente, são fixadas nesse perímetro", afirma Nelson. Nessa sexta-feira, 26, por exemplo, Teatro Máquina e Grupo Formosura se apresentam na sede do Grupo Imagens, situada em uma ruazinha simples do bairro Monte Castelo.
"Aqui na nossa sede, a Aldeia, o povo da rua passa e pergunta: ´Vai ter teatro hoje?´. É isso o que queremos, interação com a comunidade, entende? Nas nossas oficinas, aliás, já identificamos alunos da Messejana, da Parangaba... Não fica apenas no nosso bairro", acrescenta Herê Aquino.
O I Circuito Alternativo de Teatro iniciou na última terça-feira, com um cortejo na frente do Cine São Luiz, e segue até o dia 28 de julho, domingo, com espetáculos nas sedes do Pavilhão da Magnólia, do Grupo Expressões Humanas e do Nóis de Teatro.
NOTA DA CIA. PLURAL: Infelizmente, não tivemos condições de participar, em função de compromissos profissionais anteriormente assumidos neste mês de julho.
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Veja a seguir a programação completa.
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