quinta-feira, 5 de julho de 2012

PANORAMA DO TEATRO CEARENSE É OBJETO DE COLEÇÃO DE LIVROS

(Por Mayara Araújo - Repórter)

Historicamente, quando as crônicas começaram a deixar os folhetins dos periódicos brasileiros e migrar para os livros, dizia-se da importância de guardá-las em lugar seguro, longe da efemeridade própria das folhas de jornal. Reunidas em livros, era como se adquirissem valor histórico, perdurassem como um legado a filhos e netos.
FOTO: MARÍLIA CAMELO

Faz sentido. Ainda que os livros também sofram com a ação do tempo (hoje, aparentemente, combatida apenas pela internet), resguardam o ofício de compilar e, simbolicamente, tornar reais algumas memórias, antes próprias da lembrança, da tradição oral.

Como bem disse Fernanda Quinderé, na apresentação oficial da Coleção Edições Theatro José de Alencar, "o teatro merece". De fato, as artes cênicas cearenses mereciam que sua história, suas memórias e seus textos fossem, de certo modo, protegidos da ação do tempo.

Em um compêndio de 20 títulos, assinados por teatrólogos, historiadores e pesquisadores, e lançado em cerimônia nos jardins do TJA, no último dia 17, estão reunidos ricos materiais acerca do teatro cearense.

Conteúdo

Elencada por um conselho editorial formado por especialistas (Rejane Reinaldo, Ricardo Guilherme, Fernanda Quinderé, Izabel Gurgel, Gilmar de Carvalho, Haroldo Serra, Marcelo Costa e Raymundo Netto), as obras apresentam um panorama diverso, distribuído entre as séries "Teóricos", "Dramaturgia" e "Memória". Entre os títulos, quatro promovem um debate teórico, cujo objeto de estudo é, direta ou indiretamente, o Theatro José de Alencar: enquanto Hiroldo Serra apresenta um memorial das casas de espetáculo de Fortaleza - Ibeu, Teatro da Praia, Casa da Comédia Cearense e TJA, a historiadora Carla Manuela Vieira se atém propriamente ao Theatro no início do século XX: a construção e o impacto simbólico de uma casa de espetáculos na Fortaleza do início dos anos 1900.

Weber dos Anjos, por sua vez, aborda o local sob outra perspectiva: a casa de grandes artistas, não apenas do teatro, mas das artes plásticas e da música, como Raimundo de Paula Ramos Filho, mais conhecido como Ramos Cotoco: pintor do Foyer do TJA e autor de um livro que ajudaria a compreender sua relação com a arte e o seu tempo: Cantares Bohêmios, de 1906.

"Entre Ritos, Risos e Batalhas", Oswald Barroso disponibiliza cinco de seus textos dramáticos, além de artigos de outros autores que esmiúçam e situam seu trabalho na produção teatral nordestina.

Ainda que o critério para a seleção dos textos tenha sido o fato de ainda não terem sido publicados em livro, os escolhidos seguem, sim, uma harmonia, mantendo definidos os fundamentos da criação de Oswald Barroso, que costuma passear livremente entre a realidade, o humor, a fantasia e os conflitos.

A série "Memória" dá conta de eventos cearenses, como o Festival de Esquetes de Fortaleza e o Troféu Carlos Câmara, e personalidades como Hugo Bianchi e Paurillo Barroso. Este último, escrito pela própria Fernanda Quinderé, membro do conselho editorial da coleção. A atriz abre mão de escrever uma biografia sobre o compositor cearense e se detém às memórias, revirando seus baús e armários em busca de fotografias, partituras e bilhetes. Entre outras obras, Paurillo foi autor das partituras da memorável "Valsa Proibida", opereta reencenada pela Comédia Cearense em 2011, quase 70 anos após sua estreia.

Novo fôlego

Um dos destaques da coleção são os títulos dedicados à publicação de autores que, apesar dos anos de experiência, tiveram poucas obras acessíveis, como Rafael Martins, do Grupo Bagaceira de Teatro, Walden Luiz e Caio Quinderé. "É muito difícil publicar textos de teatro, em geral. Se o dramaturgo for publicar por conta própria corre o risco de não vender, já que serve a um público muito específico. Além do peso histórico, acho que essa coleção tem uma importância política, de incentivo ao teatro local", opina Hiroldo Serra, satisfeito em ter podido, através das publicações, conhecer textos de outros autores locais.

Hiroldo Serra relembra quando Caio Quinderé venceu um concurso de dramaturgia em que seu pai, Haroldo Serra, fora diretor. "O texto era excelente, mas o concurso não previa publicação nem encenação. Meu pai, então, decidiu encená-lo, para que o texto saísse do papel. Essa é a sina de todo texto dramático", comenta o dramaturgo.

Para Hiroldo, o Governo do Estado deveria manter as publicações com certa periodicidade. "Seria interessante que se fizesse, a cada quatro ou cinco anos, quem sabe, uma nova compilação de textos. É uma forma excelente de se difundir a dramaturgia cearense e de poder vê-la sobre os palcos", ressalta. Entre os 20 títulos da Edições Theatro José de Alencar, estão reunidos quase 60 espetáculos. Muitos deles, nunca subiram aos palcos ou, se foram encenados, passaram curtas temporadas.

Financiados pelo Governo, os livros já podem ser encontrados em bibliotecas públicas do Estado.

Títulos e respectivos autores

Dramaturgia

- Dramaturgia Geraldo Markan - Geraldo Markan
- Dramaturgia Caio Quinderé - Caio Quinderé
- Teatro completo - Gilmar de Carvalho
- Dramaturgia Eduardo Campos - Eduardo Campos
- Alarme geral e outros textos - Zaza Sampaio
- Curral grande - Marcos Barbosa
- Cariri I - Renato Dantas, Maria José de Sales e Lucion Caeira
- Cariri II - Cacá Araújo, Renato Dantas e Zé de Matos
- Oito peças curtas - Rafael Martins
- Iracema dos lábios de mel: o musical - Ilclemar Nunes
- + 5 textos para teatro - Walden Luiz

Memória

- Tributo ao talento - Marcelo Costa
- Princípio da Dramaturgia Cearense - Juvenal Galeno, Willian Alcântara, Silvano Serra
- Paurillo Barroso: o imperador dos sonhos - Fernanda Quinderé
- Festival de esquetes de Fortaleza - Rogério Mesquita
- O espetáculo da vida: a dança de Hugo Bianchi.- Júlia Cândida Soares

Teóricos

- Onde mora a cena cearense - Hiroldo Serra
- O Theatro José de Alencar no início do século XX - Carla Manuela Vieira
- Ramos Cotoco e seus "cantares bohêmios" - Weber dos Anjos
- Entre ritos, risos e batalhas - Oswald Barroso

Fonte: DIÁRIO DO NORDESTE DE HOJE

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