(Veja vídeo com cenas da manifestação cultural no final desta matéria.)
"Se não nos deixam sonhar, não os deixaremos dormir" – a frase no cartaz resumia bem a vigília seguida de manifestação formada na quarta-feira por artistas, produtores e outros profissionais ligados ao setor da cultura, em frente à Secretaria de Cultura do Estado do Ceará (Secult), no prédio do Cine São Luiz, na Praça do Ferreira.
O protesto foi organizado como resposta ao que eles consideram o ápice de uma situação de descaso do Governo do Estado em relação à pasta e ao setor da cultura no Ceará – cujo episódio mais recente inclui o entra-e-sai de nomes no cargo de Secretário da Cultura.
Desde que foi nomeado secretário, o deputado Francisco Pinheiro já se afastou duas vezes do cargo. A primeira foi logo após tomar posse, quando se licenciou para assumir como suplente na Assembleia Legislativa, a fim de evitar a perda da vaga da então coligação PSB, PT e PRB; a segunda, no começo deste mês, quando se desincompatibilizou do cargo, com vistas a uma possível disputa nas eleições deste ano.
Nesse ínterim, o deputado estadual Antônio Carlos chegou a assumir a gerência da Secult por seis dias.
Atualmente, quem responde pela pasta é a secretária-adjunta (e ex-presidente do Instituto de Arte e Cultura do Ceará) Maninha Morais, que também ocupou o cargo no primeiro afastamento de Pinheiro.
Esse entra-e-sai foi considerada pelos artistas a gota d’água de uma situação que, segundo os manifestantes, mantém-se desde o primeiro mandato do governador Cid Gomes.
“Nosso objetivo é dar voz ao descontentamento causado por um acúmulo de questões, não apenas o fato de a pasta ser usada como meio de aparelhamento político em vez de servir ao seu real propósito, a criação de políticas públicas consistentes para a cultura, mas pelo descaso com que o setor é tratado”, criticou a integrante do Fórum de Dança do Ceará, a bailarina Sílvia Moura, também uma das articuladores do Fórum de Linguagens Artísticas do Ceará.
Assim, desde a noite da última quarta (27), artistas e produtores alternavam-se em movimentação na frente da Secult. “Muitos vieram, passaram um tempo e voltaram pela manhã. De madrugada, permaneceram umas 15 pessoas. Parece um número pequeno, mas é significativo, porque representa nossa capacidade de articulação”, ressaltou Moura.
Limite
Durante a manhã de ontem, o protesto reuniu em torno de 100 pessoas, que gritavam frases de cobrança, empunhavam e colavam cartazes na fachada do prédio do Cine São Luiz e na entrada da Secult, além de se dividirem entre atividades e performances artísticas. Com megafone e música, o grupo chamava atenção dos transeuntes na Praça do Ferreira. Perguntada se o protesto não deveria acontecer em frente ao Palácio da Abolição, onde funciona a sede do poder executivo do Ceará, Moura concordou. “Mas temos medo de algum confronto, porque o governador coloca polícia. Há muito tempo não precisávamos fazer isso. Em mais de 30 anos que acompanho a articulação artística no Ceará, nunca vi uma situação como essa”, ressaltou Moura.
A opinião é compartilhada pelo integrante do Fórum Cearense de Teatro Raimundo Moreira. “Não temos estrutura para ir ao Palácio, então decidimos começar por aqui para ganhar força. Mas a ideia é continuar, fazer algo toda semana, inclusive em articulação com artistas do Interior. Essa não é uma manifestação pontual”, frisou.
Segundo ele, encaminhamentos e propostas de novas ações seriam discutidas ao fim do dia de ontem. Integrante do Fórum Cearense de Circo, Leandro Guimarães adiantou algumas ideias, entre elas a de continuar acampados na Praça até o fim desta semana.
“Em primeiro lugar, queremos uma audiência com o governador, para expor as demandas mais urgentes, entre elas a realização de concurso público para reformar o quadro de funcionários da Secult, além da sugestão de outro nome para o cargo de secretário”, explicou o jovem.
Essas e outras propostas constam em um abaixo-assinado elaborado na última terça (26), durante um encontro do Fórum de Linguagens, no qual os artistas evidenciam os problemas da gestão de Cid Gomes e sua equipe no que diz respeito à cultura.
Entre as falhas citadas estão a delegação de cargos e responsabilidades na pasta a gestores que desconhecem problemáticas e contextos artísticos do Estado; a falta de manutenção e continuidade de projetos; o sucateamento da estrutura técnica da Secult, que compromete a aprovação de editais, de projetos e a liberação de recursos; e, principalmente, um modo de gestão centrado exclusivamente no governador, que enfraquece a autonomia das comissões técnicas da secretaria.
Nesse sentido, os assinantes reivindicam a reforma do quadro de gestores da Secult, o fortalecimento dos processos de interlocução entre a classe artística e as diferentes instâncias da gestão estadual e atenção às políticas já implementadas pela pasta.
Em dois dias disponível na internet, o abaixo-assinado somou mais de 800 assinaturas (fora as recolhidas na manifestação). O objetivo, segundo Moura, é deixar no ar por mais 20 dias, para chegar a 5 mil.
Clique AQUI para assinar o DOCUMENTO DE APOIO À MANIFESTAÇÃO
“Inicialmente, porém, nossa exigência é simplesmente consideração à cultura. Além, claro, de chamar atenção da população. Demandas específicas serão expostas em um segundo momento”, observou o realizador audiovisual Victor Furtado, também presente na manifestação.
O Palácio do Governo declarou não ter tomado conhecimento da manifestação na Praça e que não se pronunciará até receber o abaixo-assinado ou outro documento oficial dos fóruns e artistas.
Já a secretária adjunta Maninha Morais relatou que, até ontem, a Secult não havia sido procurada pelos manifestantes e que a pasta não teve nenhuma conversa com o Governo do Estado sobre o protesto. “Mas o diálogo com o Executivo está aberto, como sempre esteve. Quanto à manifestação, entendemos que ela é legítima”, complementou.
A matéria é assinada pela repórter ADRIANA MARTINS.
Fonte: Jornal Diário do Nordeste de hoje, 29/06/2012
Clique AQUI para ver as PROPOSTAS DOS ARTISTAS AO GOVERNADOR.
Veja abaixo vídeo com algumas imagens desta manifestação:
Clique AQUI e veja o TWITTAÇO que colocou a hastag #deCIDapelacultura em primeiro lugar no Twitter.
A cultura não é mais a mesma. a muito tempo vem deixando de lado o seu propósito para servir de articulação política. Principalmente nessa nova gestão, onde pessoas incapacitadas estão ocupando cargos na secretaria, e que só faz inchar a folha salárial, mas competência que é bom, NADA!!! Dizem que tem até gente semi-analfabeta trabalhando lá, só pelo fato ser conhecido dos gestores. é um ABSURDO!!!
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